Há exatamente um ano, ele nascia acanhado, pequenininho, sem fazer todo aquele estardalhaço como a maioria dos recém-nascidos, entretanto, ele surgia confiante, esperançoso, faminto de conhecimento e sedento de ideias. Sua vinda não fora algo muito bem planejado, digamos que de um rápido esboço ele passou a ser algo real, mais ou menos como aquela pessoa que não pede licença, vai logo entrando, mas mesmo assim consegue ser tão educada e adorável a ponto de sua presença se transformar em um presente, um alívio - no meu caso, uma paixão. Quando ele nasceu, talvez não tenha sido muito acreditado por sua progenitora, mas ah, como ela estava enganada... Não que ele tenha se transformado em algo perfeito, mas sua vocação para ser grande já se faz visível. Quando ela lhe tomou aos braços pela primeira vez, talvez tremesse como qualquer marinheiro de primeira viagem, mas junto com o suor frio que escorria pelo seu rosto, estava a lágrima de felicidade, de realização, de desafio.
Sim, eu não o planejei, aconteceu; também confesso, não depositei nele aquela confiança dos que se dizem fortes e sábios; tremi, suei frio e até senti algo escorrendo dos meus olhos. Ousei planejar seu futuro - criar cronogramas, regras rígidas e imutáveis, sentenciar exatamente como seriam seus primeiros passos, suas primeiras palavras, seus primeiros sorrisos - mas quem disse que nossas crias são tão manipuláveis? Falhei. Mas, olhe que barato, quando pensei que esta aventura era demais para o meu espírito aventureiro, fui surpreendida por uma força que me mostrou o quão saboroso é o gosto do desconhecido, do novo. De onde veio a tal força? Da criatura, para espanto do criador.