16 de outubro de 2010

É pau, é pedra – é o fim do caminho

Somos 135,9 milhões de brasileiros aptos a votar nesta eleição, 2/3 da população brasileira que no próximo dia 31 decidirão qual cor tingirá nossa estrela pelos próximos 1.460 dias, qual será o ritmo de nosso brado retumbante e o tom de nossa pátria mãe gentil. Desses brasileiros, 52% são mulheres, o que sugeriria, a priori, que o resultado poderia sofrer algum tipo de interferência sexista. Não sofreu. Ganharam as brasileiras, ganhou o país. Se a legitimidade do pleito está assegurada pela participação ampla do povo brasileiro, em contrapartida, sua ética e integridade não estão. E há quem discorde?

Desconhecido por boa parte do eleitorado, já que 54% desse não concluíram o primeiro grau, Winston Churchill reparou algo importante no Reino Unido de seus anos belicosos: em suas próprias palavras, quando a controvérsia política se torna excitante, as pessoas com temperamento colérico e limitada inteligência se transformam facilmente em pessoas ordinárias. Qualquer semelhança com o que vemos hoje não é mera coincidência. Se não estamos frente a um espetáculo no qual o ordinário virou trivial, ao menos podemos dizer que estão brincando com nossa inteligência, gastando nossa paciência, abusando de nossa disposição.

12 de outubro de 2010

We are the world, we are the children

Nunca aceitei a ideia de nossos pais serem crianças, assim como nós, por isso posso dizer que em pelo menos um ponto discordo do coautor de “Pais e Filhos”. Penso que essa é uma forma muito fácil e pouco racional de tentar livrar as pessoas grandes de suas responsabilidades e jogá-las – para onde? – para o destino, o acaso ou o que quer que seja. Logo elas que tanto falam da tal responsabilidade, que tanto a conjugam como nosso salvo-conduto para uma vida adulta. Para Drummond, é tudo uma questão de comprometimento, assim uma criança nada mais é que um adulto não comprometido. Certo? Errado? Simples demais? Eu fico com esse ponto de vista.

Eu, logo eu, a filhinha do papai, a querida da titia, a neta mais neta, a sombra da mãe, a criança da família, mas que há alguns dias já não é mais, oficialmente, criança. Talvez, assim já não seja há certo tempo, afinal, comprometeu-se. Com seu futuro, com seu nome, sua história, suas circunstâncias, sua carreira, com o que já construíra, com o que lhe dá orgulho. (Obrigada, Drummond!) Comprometeu-se e, na maior parte do tempo, não se arrepende de assim ter sido. Perdeu. Ganhou. Surpreendeu a si mesma.

1 de outubro de 2010

Crônica de uma contagem regressiva

Em um quarto não muito grande, no qual apenas duas camas, algo como um armário e uma mesa de cabeceira compartilhada pelos dois senhores que ali passam boa parte de seu tempo, é impossível não perceber logo que há algo de diferente, de peculiar e – por que não? – impressionante. Seu Oswaldo é um dos ocupantes daquele simplório quarto, morador de uma das tantas casas de repouso que existem hoje. Até este ponto, Seu Oswaldo é apenas parte de um todo – muito especial, claro – mas que ainda assim é um coletivo. Onde estaria, então, aquele quê de “diferente”?

Basta aproximar-se e começar a conversar com aquele senhor de semblante sereno, mechas brancas parcas, ouvidos cansados cansados... Mas olhos sempre arregalados, força para se sentar, comer sozinho e sair andando por aí. Seu Oswaldo é a história em forma de pessoa. Ele foi fuzileiro naval – por obrigação, mas foi. Viajou pelo litoral brasileiro atrás de aventura, ou como ele mesmo diz, porque não tinha compromisso com ninguém; se encantou com as praias, com o calor, com a Cidade Maravilhosa. Seu Oswaldo se casou, teve duas filhas. É fã das músicas do Adoniran, que fazem seus olhos brilhar. Seu Oswaldo é cidadão paulistano; é torcedor fiel do São Paulo. Seu Oswaldo é centenário!