15 de fevereiro de 2012

Chega de saudade


Há quase três anos, embalada por uma das minhas canções francesas preferidas, eu publicava no blog um texto sobre a perda. Eu falava desse sentimento capaz de me tirar do prumo e me render horas e horas de solilóquio, eu discorria sobre o quão desgastante é uma ruptura. No ínterim que separa aquele texto – escrito por uma estudante do alto dos seus 16 anos – deste, de uma universitária com seus 19, acredito que o que menos tenha mudado seja a minha relação com a danada da perda. Talvez agora ela seja cantada em poesia, ou em frases feitas, e pontuada pelo autoconhecimento que sessões de terapia podem proporcionar. A inquietação, entretanto, persiste.

Quando ainda começava a organizar as ideias no papel para o primeiro texto, uma frase chamou minha atenção dentre as demais: "a pior espécie de perda não é aquela causada pela morte – quando muitas vezes nada podemos fazer – mas sim, o distanciamento dos corpos, das almas na terra, quando pessoas vão se perdendo, sentimentos vão se perdendo, e no final, tudo que resta é o silêncio". Se a saudade da morte é como dizem por aí, o que "fica de quem não pode ficar", a saudade dos que se perderam em vida é para mim como para Carlos Drummond: algo de autoacusação e arrependimento.