1 de novembro de 2009

Do Brasil, com carinho...

O nome dela é Yoani Sánchez (sim, olha ela aqui outra vez!), sua profissão é estudar a literatura, língua e cultura hispânicas e seu ofício é um dos mais sagrados: Yoani é uma verdadeira mantenedora da identidade cubana, ao passo que não pretende abandonar a ilha e viver o sonho americano, muito pelo contrário, o que ela quer mesmo é uma vida melhor para o seu povo. Povo esse que está começando a respirar após uma revolução muito mal explicada e uma política muito mal compreendida pelos que a ela se submeteram. E como suas intenções são as melhores possíveis, muito tem sido falado sobre ela, desde o convite brasileiro para desembarcar aqui até seu recém publicado livro "De Cuba, com Carinho" que reúne os textos do seu Generación Y e exerce o papel de documento social da ilha dos Castro.

Com esse título de Yoani em mente, comecei a pensar como seria a sinopse de uma versão abrasileirada do livro, o que contaríamos, quem criticaríamos... Confesso que não seria uma atividade nada fácil retratar o nosso país em um livro; são muitos paradoxos, tantos esquemas que precisaríamos destrinchar, tantas obscuridades que teríamos que por às claras, caso contrário, quem as entenderiam? Nós as entendemos?

Uma boa capa para o nosso livro teria uma bandeira nacional, característica e imponente, ou uma charge? O prólogo citaria o quê? A Barra da Tijuca ou a Favela da Rocinha? E a dedicatória, seria para quem? Para o "pai dos pobres", chama da industrialização brasileira e mais paradoxal que seu próprio país? Para o Rei do futebol, ícone de uma época dourada? Para o companheiro Sr. Presidente da República? Ou para nós que aguentamos todos eles? E quanto a epígrafe, o que vocês acham? Um trecho da marchinha de carnaval composta por André Filho nos anos 30, nossa tão famosa Cidade Maravilhosa, ou é mais adequado um funk dos Racionais Mc's como "o drama da cadeia e favela, sirenes, choros e velas"? Quando pensamos no índice então, aí é que a confusão aumenta, afinal, para ter um índice é preciso haver conteúdo. E qual seria mesmo o conteúdo do nosso livro?

Quando a intenção for construir um capítulo não muito extenso - na medida - mas muito importante, daqueles bem diretos mesmo que acabam até assustando o leitor pela sua objetividade, falaremos sobre o quê? Jeitinho brasileiro ou seu conformismo que anda nos surpreendendo ultimamente? Podemos falar sobre a magia da natureza brasileira ou sobre nosso potencial de destruí-la? Podemos contar a história dos planos econômicos ou narrar os escândalos dos dólares nas cuecas? Podemos tentar explicar a construção da nossa democracia ou o tempo em que vivemos sob uma forte ditadura militar que de "ditabranda" nunca teve nada? Podemos. Sim, nós podemos.

Porém, não há só dúvidas, de algumas coisas temos certeza, vejam só. Quando quisermos um capítulo cheio de adjetivos patrióticos, engrandecedores e corretos teremos um capítulo sobre o quê? Futebol, na certa! Agora, quando nossa vontade for complicar geral, escrever um capítulo muito extenso - daqueles que desanimam o leitor e fazem-no correr para o capítulo seguinte - cheio de armadilhas, todo escrito com orações na ordem indireta e palavras que só estão naqueles dicionários mais empoeirados e escondidos no fundo do armário, qual será nosso assunto? O Planalto Central e suas Casas de Noca Federais, claro.

É, não seria fácil mesmo... Juntar textos de diferentes blogs não tornaria a atividade nada mais simples. Nosso número de blogs é tão grande que só perde para o dos Estados Unidos, segundo o CEO do Blogger.com, Rick Klaus. A melhor saída, então, seria entrar em um consenso, através do senso comum de "como você vê o Brasil". Mas, sinceramente, eu não acredito que o povo brasileiro gostaria de retratar como realmente vivemos, ao que estamos "submetidos" de fato e o que fazem com a nossa fama de paraíso tropical. O povo brasileiro é assim mesmo, se acostumou a varrer tudo para debaixo do tapete e receber as visitas como se a casa estivesse limpa.

O que eu mais desejo não é que esse livro chegue, um dia, a ser escrito ou que percamos nossos paradoxos, o que eu mais desejo é que aprendamos a dar um jeito na casa, um jeito definitivo, limpando de verdade toda a sujeira que insiste em grudar aqui. Que as pequenas ações se unam e deem forma ao bem coletivo. Que as revoluções sejam para valer, duradouras e que mudem nossas vidas para melhor. Que não surjam mais "caçadores de marajás" mascarados e mensaleiros mancomunados para desmotivar nossa população. Mas o que eu mais quero mesmo, é que o povo brasileiro aprenda, aprenda de verdade, conheça sua história, para poder analisar, criticar e mudar, de fato. Precisamos de mais educação. Precisamos ter motivos para dizer por aí: "Do Brasil, com carinho..."

6 comentários:

  1. Acho que um livro nesse estilo teria, sem dúvida, muita história pra contar, com muitos altos e baixos, muitas emoções, muitas decepções. É uma ideia interessante, mas não vejo quem o faria melhor. Talvez um time de colaboradores para ver as coisas por todos os lados. Enfim, se fizerem com carinho, será muito bem recebido. Recebido com carinho. Maravilhoso texto. Parabéns, mais uma vez. Um grande abraço, Hans Misfeldt

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  2. Agradecendo o carinho e retribuindo a visita ao PJ. Seu blog é fofo demais e com conteúdo de sobra! Você já está indicada em meus links, tanto no PJ quanto no Feminina Plural!

    Amei. Já tô seguindo e agora tb estarei te acompanhando via feeds!

    Beijos

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  3. é esse o meu desejo também. Que todos deixem de querer passar a perna em todo mundo. Que o Brasil se referência em honestidade e de uma política séria.

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  4. Oie, "sem querer" descobri esse blog, e quer saber? aff, achei ele muito massa!

    espero mantermos contato,
    parabéns!
    abraços!

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  5. Oiee Bia,

    meu muitoo mas muitoo bom o seu blog,
    Parabens mesmo, por escrever tão bem assim..!

    Beijuus, Enaile

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  6. Hey Ana,

    Just stopped by to check out your blog and I have already bookmarked it! ;)

    You posed some complicated questions, but it's important to think about them.

    Cheers,

    Paula

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