3 de junho de 2010

FUNcouver

Ao caro leitor, a explicação: texto publicado na edição 64 do jornal laboratório do curso de Jornalismo da Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes da PUC-SP, Contraponto.


Enquanto a maioria das emissoras de TV brasileiras preparava-se para cobrir mais um show de peles descobertas, rostos exuberantes e sorrisos saltados à vista – nosso bom e velho lugar-comum – uma emissora em especial abastecia-se de casacos, luvas e botas para alçar novos horizontes, apresentando a nós brasileiros um show de exuberância e sorrisos onipresentes. Preteriu-se o espetáculo da beleza individual de corpos esculturais; preferiu-se a beleza das paisagens limpas ressaltada pelo brilhantismo de super-humanos.

Para amenizar a sensação térmica de 50ºC, os 10°C canadenses. As mágoas do sol a pino foram afogadas na neve do topo das montanhas. O multicolorido dividiu sua beleza com a melancolia de um chão branco, céu azul e borrões verde amarronzados no relevo. O batuque que ecoou – e agradou – foi o dos presentes no BC Place Stadium batendo nos milhares de pandeiros que cada um encontrou em seu assento; com Nelly Furtado como seu mestre de bateria, a ala foi perfeita: harmonia impecável, “samba enredo” na ponta da língua, sorrisos nos rostos de todos. Digno de uma nota 10!

O show de luzes, a tonelada de holofotes, quilos e quilos de purpurina e gliter não refletiram mais que os milhares de bastões de luz e pisca-pisca que pelos espectadores eram empunhados como sua arma capaz de parar o tempo, esquivar-lhes de seus problemas comezinhos e capturar aquele momento. Nota 10!

Porém, antes de encantar o mundo, a cidade de Vancouver encantou a si mesma – reascendeu as luzes de uma das mais belas cidades do mundo que, há certo tempo, vem entrando em estado de dormência. Entre os moradores da cidade litorânea situada no oeste canadense há um movimento por uma Vancouver menos apática e mais artística e culturalmente viva: o FUNcouver. Eles precisando de agitação, enquanto aqui nós a temos de sobra. E da paz que eles têm em doses cavalares, conhecemos apenas as doses homeopáticas. Talvez aí esteja um motivo para nossa relação ser tão proveitosa e, ao menos pelos 16 dias dos Jogos, tão cativante.

Entretanto, creio que basear nossa afinidade na perspicácia do público brasileiro e na inovação da Rede Record é o caminho certo. Frente ao desconhecido só há duas reações possíveis: a curiosidade e o preconceito. Ao deparar-se com a cobertura jornalística feita por aquela emissora que investiu em roupas de frio no lugar de patrocinar a nudez, que por insistência de muitos é chamada de “Carnaval” quando, definitivamente, não o é, os brasileiros não caíram no clichê, ousaram comprando a ideia do ineditismo. Com isso, provaram que são menos preconceituosos do que eram julgados ser e que a audiência já não é mais aquela máquina de digerir programação, mas sim um receptor ativo que sabe, como nunca antes, exercer sua própria ditadura: a ditadura do controle remoto.

Assim, muito mais que diversão, Vancouver camufla uma nova visão do gosto do público brasileiro. Parabéns a Rede Record por ter investido no evento. Loas ao público brasileiro por ter comprado esta ideia.

10 comentários:

  1. Olá Ana Beatriz..

    Costumo dizer que quando chamam a gente pelo nome completo vem uma bronca... E de certa forma vou dar uma bronquinha na senhora..
    Porque você tem escrito tão pouco por aqui? Agora que a universidade faz parte da sua vida esperava você mais atuante por aqui... Espero que escreva mais.. Bronca dada ai vem o elogio...
    Muito legal o texto sobre Vancouver e a cobertura dos jogos... Está escrevendo cada vez melhor...
    Valeu pela visita lá no Mural, é sempre bom receber os amigos..
    Bjos moça

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  2. ameiii o blog
    seguindo =D

    Beijos

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  3. Oie!
    Está maravilhoso esse seu último post!
    Você consegue pegar um fato e transmitir ele á todos de uma forma clara e precisa,isso é um dom!Considere-se muito feliz!!!!!

    Beijo

    Pry

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  4. Compramos mesmo, eu inclusive assistia a ginástica artística na academia... É eu sei que (quase) sempre sou "o do contra", mas por novos hábitos e oportunidades - vale a pena. À Bia: sempre competente. UAL!

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  5. Bia, desculpe a intimidade, o motivo principal
    nem foi o ineditismo da competição aqui para o
    Brasil, pelo fato de que edições anteriores dos
    Jogos de Inverno já tinham sido transmitidas
    para República da Bananas.

    O fenômeno que ocorreu deve-se ao fato que pela
    1ª vez foi tramsmitido para o Brasil através da
    televisão aberta.

    Se tu quiser te envio uns dados(e números) por
    e-mail e tu vai entender (e constatar) melhor o
    que eu estou dizendo.


    Alexandre N.

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  6. Alexandre, quando falamos em Rede Record, falamos em telespectador mais simples, mais popular, povão, certo?

    O número de residências com tv a cabo no Brasil já bate os 8 milhões, segundo a ANATEL e o IBGE afirma que já são 29,2 milhões de pessoas assistindo a esses canais. Entretanto, público brasileiro é, em sua maioria, composto por essas pessoas que têm tv a cabo ou por aquelas que acompanham tudo pelos canais abertos?

    Logo, se falo do brasileiro no texto, se falo da nova imagem do telespectador brasileiro, ainda falo da grande massa que não tem acesso à tv a cabo. Ou seja, pessoas que acompanharam os jogos pela TV Record.

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  7. Levando em conta que o país tem cerca de 192
    milhões de habitantes:

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Demografia_do_Brasil


    29,2 milhões de pessoas representa pouco mais
    de 7% dos domicílios brasileiros e 15,2% da
    população do país.

    Ou seja, aproximadamente 85%, repito 85%, da
    população brasileira não têm acesso a televisão
    por assinatura !

    De qualquer forma no Brasil não ocorre isto:

    http://www.dailymotion.com/video/xeggs7_children-inspiring-inspirando-crian_sport


    Não falo dos Jogos de Verão, pois estes já eram
    transmitidos em TV aberta pela Vênus Platinada
    e a partir de Londres'12 serão transmitidos
    pela "Bispo TV", me refiro às grandes
    competições que intercalam-se aos Jogos
    Olímpicos (Campeonatos Mundiais e Continentais)
    que são "secretos" para o Brasil, visto os
    números acima.

    Te pergunto:

    O que representa 17 dias de exposição na grande
    mídia em relação ao restante do ciclo
    olímpico ?


    P.S. Não estou considerando a Copa de Mundo de
    Futebol, já que futebol e uma "ilha de
    exceção" no país!


    Alexandre N.

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  8. No que diz respeito a pergunta que fiz no meu comentário, por razões óbvias, temos a mesma opinião.

    Quanto à sua pergunta, realmente 17 dias é muito pouco no ciclo olímpico, mas a Rede Record e a Bandeirantes - em menor escala - têm buscado aumentar a cobertura olímpica. Sendo isso possível devido às suas grades de programação mais flexíveis.

    Ainda não consegui entender o que você pensa a respeito. Primeiro, você fala que o fenômeno deveu-se ao fato dos Jogos de Inverno serem transmitidos pela TV aberta, depois questiona se esse tempo dos jogos foi realmente algo significativo. E aí?

    Um aumento significativo de audiência da emissora durante a exibição dos Jogos de Inverno, apesar desses 17 dias, não seria um indicativo de programação nova para o telespectador brasileiro?

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  9. Me refiro aos 17 dias e ao ciclo olímpico
    dos Jogos de Verão, já que, como disse no
    comentário anterior, as grandes competições que
    intercalam-se aos Jogos Olímpicos de VERÃO
    (Campeonatos Mundiais e Continentais) via de
    regra são "secretos" para o Brasil.

    Ao menos até a Bandeirantes deixar de ser, no
    final da década de 90, o "canal do esporte
    olímpico."

    Como mencionei no 1º comentário, o fenômeno que
    ocorreu deve-se ao fato de que pela 1ª vez os
    Jogos de Inverno foram tramsmitidos para o
    Brasil através da televisão aberta.

    Com certeza se as edições anteriores tivessem
    sido transmitidas em TV aberta, o fenômeno já
    teria ocorrido.

    Concluindo:

    Não estou criticando a Record, muito antes pelo
    contrário, embora ache que ela devesse
    investir tb nos outros eventos, que citei
    acima, e intercalam-se aos Jogos Olímpicos de
    Verão.

    Esclarecido agora?


    Alexandre N.

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  10. Agora, sim, esclaredicidíssimo. Ambos vemos como importante essa atitude da Record que trouxe algo novo à programação do Brasil, só que você trouxe um novo panorama para essa nova cobertura da emissora de que seria super importante, de fato, abordar o ciclo olímpico de forma mais agressiva, ou seja, tirando-o do "sigilo" da tv a cabo.

    Praticando o exercício da declaração, é para isso que o Declarando existe!

    Obrigada pela sua participação e pelos comentários, Alexandre! Volte sempre por aqui!!!

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Quem declara agora é você!