12 de outubro de 2010

We are the world, we are the children

Nunca aceitei a ideia de nossos pais serem crianças, assim como nós, por isso posso dizer que em pelo menos um ponto discordo do coautor de “Pais e Filhos”. Penso que essa é uma forma muito fácil e pouco racional de tentar livrar as pessoas grandes de suas responsabilidades e jogá-las – para onde? – para o destino, o acaso ou o que quer que seja. Logo elas que tanto falam da tal responsabilidade, que tanto a conjugam como nosso salvo-conduto para uma vida adulta. Para Drummond, é tudo uma questão de comprometimento, assim uma criança nada mais é que um adulto não comprometido. Certo? Errado? Simples demais? Eu fico com esse ponto de vista.

Eu, logo eu, a filhinha do papai, a querida da titia, a neta mais neta, a sombra da mãe, a criança da família, mas que há alguns dias já não é mais, oficialmente, criança. Talvez, assim já não seja há certo tempo, afinal, comprometeu-se. Com seu futuro, com seu nome, sua história, suas circunstâncias, sua carreira, com o que já construíra, com o que lhe dá orgulho. (Obrigada, Drummond!) Comprometeu-se e, na maior parte do tempo, não se arrepende de assim ter sido. Perdeu. Ganhou. Surpreendeu a si mesma.

Surpreender - está aí algo que os grandes precisam aprender com seus pequenos. Essas centenas de mini gadgets ambulantes que vemos por aí não podem crescer sem surpresas. Não, eu não falo de materialidades, pois isso soaria muito insensato em uma era em que chamar as crianças de “mini gadgets ambulantes” não me parece nenhum erro. Eu falo do novo grande déficit: o exemplo. Pode até parecer que as crianças de hoje não ligam mais para sentimentos, que são unicamente obcecadas pelo “ter” em detrimento do “ser", mas, não, não é assim. Não culpo os que tendem a pensar dessa forma, apenas defendo que tais pessoas não viveram esta “nova infância”, portanto, não falam com propriedade.

Atrás da tela de cada supercomputador, de cada máquina digital incrivelmente potente, cada iPod mega moderno, cada vídeo game de última geração, há olhinhos brilhando por alguém que os surpreenda, que dê o exemplo, que os encha de orgulho, que os ensine como se comprometer e, portanto, tomar as responsabilidades pela mão. Muitos de nós entendemos a preciosidade do que é isso, enquanto outros não tiveram a mesma sorte. Mesmo assim, ainda acredito que sejam fantásticas pessoas grandes em potencial.

Acima de tudo, eu ainda acredito nas pessoas, logo, não deixo de acreditar no exemplo, no orgulho, no amor, no brilho do olho, no sorriso do rosto. Quando falo que nossos pais não podem assumir a figura de crianças, eu falo em defesa das verdadeiras crianças, essas que para aprender a beleza do comprometimento e de uma vida de responsabilidades precisam de pessoas fortes, de alguém para chamar de seu, de um porto seguro, e não da insegurança de seus pares. Assim, crianças precisam de pais, crianças não precisam de pais crianças. Primeiro, pense em como você foi como filho para, então, ir atrás de preencher suas carências quando chegar seu momento de pessoa grande. Saramago dizia que para viver decentemente, não devemos envergonhar a criança que todos já fomos. Eu acredito nas crianças. Eu acredito no Saramago. Eu ainda acredito no amor.


Sugiro a leitura de "A era dos adultos infantilizados", texto de Eliane Brum, que chegou à esta filha após o ato de Declarar sobre tal assunto.

Não deixe também de assistir à versão para crianças de Saramago, "A Maior Flor do Mundo"

6 comentários:

  1. Eu acredito no amor, acredito no Chico Buarque e acredito nas diferenças. Existem crianças mais adultas do que muito adultos, como existem jovens mais idosos do que muitos idosos (você conhece alguém assim? hahaha). Ser criança é ser feliz por motivos excusos, talvez uma folha verde faça determinada criança mais feliz do que um brinquedo enorme. Nós somos crianças disfarçadas em corpos crescidos, elas são cada vez mais adolescentes disfarçados em corpos pequeninos. Justin Bieber agrada tanto 8 quanto 18 anos, sem dúvidas e por que não agradaria? São os gostos misturando o jovem e o infantil. Chiquitas, Chaves, desenhos animados, quanto tudo isso não nos faz sorrir quando encontrados, por acidente, passando na televisão?
    Todos somos crianças e elas são um pouco adultas. O que difere, para mim, é a maneira como admiramos o amor, e as vezes eu acredito que as crianças o compreendem melhor do que muitos de nós "adultos".

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  2. Por incrível que pareça, respondendo a sua pergunta, eu conheço alguém assim. Humpf.

    Laura, pode acreditar que nessa sua crença, você não está sozinha.

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  3. Oi e ai tudo bem?
    Gostei do texto.
    Mas sei lá,quando eu crescer quero guardar a criança que existe em mim aqui dentro
    Seguindo.
    Visita/segue o meu blog?
    www.rimasdopreto.blogspot.com

    Bjos
    OBS:Não to com o meu perfil aqui comentando pq to com uns probleminhas pra entrar no blog.

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  4. Eu acredito principalemnte no amor. Em cada de um nós ainda há uma criança que segue os exemplos que recebeu. Inde pendente da modernidade e de como as crianças se divertem atualmente, o exemplo que ekas recebem faz total diferença. Prova disso que hoje, muitos de nós, temos algumas de nossas convicções baseadas nos exemplos bons que recebemos. Aprende MUITO com meu avô, meus pais, minha avó, todos estes que me deram exemplo de superação e de seguir em frente.

    Parabéns pelo texto B.P, e eu espero, ansiosamente, pelo dia em que nos veremos novamente para debatermos ideias (sejam estas ideias de crianças ou de 'recém-adultas', rs)

    Saudades, beijo;

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  5. Ana, tenho de dizer... Seu blog é um dos poucos que tem textos, relativamente, grandes que eu tenho o comprometimento - hahaha - de ler até o fim...
    Para mim, a única coisa que diferencia uma criança de um adulto, é que estes pequenos primeiros de fato vivem, enquanto os carrancudos segundos fingem viver. Não me entenda mal, sim, sim, todos vivem, mas, afinal, o que é viver?
    Será que viver é simplesmente passar pela vida? Será que é ir para o trabalho e nem perceber que aquela bela árvore foi cortada, que uma nova rosa nasceu, que seu filho já vai sozinho para escola. Viver é simplesmente viver, mas viver de fato, sentir a vida, fluir por ela e não simplesmente passar, caminhar por uma estrada que já lhe foi associada antes mesmo de seus pais cogitarem a possibilidade de te colocar no mundo. As crianças tem o processo da silgularização, tudo é novo, tudo é singular, é isso que faz tudo ser tão mágico, que as faz de fato viver, que as difere dos ingênuos - sim isso mesmo, ingênuos - adultos.
    Lindíssimo texto, parabéns.
    PS: Eu já disse que eu detesto essa mania que gira na blogosfera de chamar tudo de texto? Ainda sim eu chamo, né? hahaha

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  6. Pois é né?Ja estou ficando velho,ou melhor, meu corpo esta ficando velho porque minha mente se recusa a envelhecer, e isto é uma das razões porque mantenho um blog e um site,para manter a mente ocupada.Bom. acho que considerar uma criança como um adulto pequeno,ou um adulto como uma criança grande, me parece uma engano.Acho que seria mais apropriado considerar todos como estando apenas em diferentes estagios da vida.Cada um com seus gostos e desgostos.É claro que cabe aos pais educar seus filhos na tentativa de fazer deles adultos normais e produtivos. Nem sempre é facil mas eu tenho conseguido com minha filha com muita dedicação e amor.Não é só dar o brinquedo "da hora" é como fazia minha esposa sentar-se no chãp com a criança e entrar no mundo dela.Minha filha esta adulta e casada e lembra daquilo com muito carinho.É lindo!

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