19 de novembro de 2011

É a gota d’ água

Antes de começar, eu já aviso: se pelo título você ainda não se tocou que este post será sobre o vídeo “Gota D’ Água + 10” e se você acabou de se perguntar que raio de vídeo é esse, eu te aconselho a entrar no site do projeto e dar uma olhada. Se você ligou o nome à pessoa logo de cara, parabéns, isso quer dizer que você tem, no mínimo, dez amigos que compartilharam o link com você.


Todo mundo já sabe que o vídeo do movimento “Gota D’ Água”, com aquele monte de artistas globais, teve inspirações norte-americanas. Foi lá no país do iPhone, do Mc Donald’s e da Starbucks que o ator – e lindo – Leonardo de DiCaprio reuniu, às vésperas da eleição presidencial de 2008, uma galera influente da TV, do cinema e da música para incentivar a população americana a se registrar e votar (veja o vídeo). Explica-se: lá nos EUA, ao contrário do que acontece no Brasil, o voto não é obrigatório, mas para ir às urnas é necessário cumprir o prazo do registro de eleitores.

A versão tupiniquim da campanha norte-americana discute a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, e convoca os brasileiros a tomarem uma posição frente à polêmica, por mais distante que possam morar do Pará e mais desinteressados que possam estar quanto ao futuro dos índios que habitam a região a ser alagada. Afinal, a construção de uma hidrelétrica exige o alagamento da área ao seu entorno. Ah, você não sabia, é? Pois é...  Então eu te aconselho a ler o texto “Belo Monte, nosso dinheiro e obigode do Sarney” da jornalista Eliane Brum, uma conversa com um professor da USP especialista no setor energético e que já foi até assessor da presidente Dilma quando ela integrava o Ministério de Minas e Energia.

De cara, aviso que o texto é longo, vai tomar uns bons trinta minutos do seu dia, e se você for daqueles que acham que meia hora é tempo demais para uma leitura, pois então nem vá ao encontro da coluna de Eliane Brum. Creio que ela não escreve para pessoas preguiçosas. Agora, se você está disposto a passar meia hora conhecendo fatos relativos à futura usina, esta é a sua oportunidade. Não deixe de ler também as respostas enviadas à colunista pelo gabinete de José Sarney, pela empresa Norte Energia e pela Associação Brasileira do Alumínio. A repercussão deste texto, aliás, configura um caso interessante para nós jornalistas: se todas as matérias fossem de interesse público, inteligentes e polêmicas a ponto de chamarem a atenção daqueles cujos interesses foram atingidos, estaríamos bem servidos do jornalismo cidadão. O que não é o caso...

Voltando ao “Gota D’ Água + 10”, li um comentário do meu colega jornalista e puquiano Guilherme Zocchio, o qual respeito muito, apesar de discordar saudavelmente de muitos de seus pontos de vista. Em seu Facebook, Zocchio deixou claro seu descontentamento com a onda que os “globalzinhos” promoveram e com o desinteresse da população, que só está falando no assunto e se manifestando porque o pessoal da novela colocou em pauta. Preciso dizer que concordo com meu colega. Acho ótimo as pessoas estarem falando no assunto, divulgando o vídeo e tudo mais, mas... Poxa, vira e mexe sai notícia de Belo Monte nos jornais, nas revistas, até no Jornal Nacional. Ninguém nunca teve curiosidade de saber do que se trata essa usina? Será que todo mundo aceita o que o William Bonner e a Fátima Bernardes falam sem se preocupar em ouvir outras pessoas? Só existe a Veja, a Época, a Istoé? Tem muita gente competente na Carta Capital e na Caros Amigos também.

Talvez isso seja um espasmo de dois anos intensos de PUC, mas o meu bom senso ainda não consegue assimilar como o conceito de “ser culto” pode estar relacionado a ter acesso a uma única fonte de informação, seja ela a Revista Veja ou a Rede Globo. Nos meus sonhos, meus filhos teriam menos aula de química, física e matemática, e mais aulas de finanças, de direitos e deveres, e de leitura crítica.

Se um vídeo de pouco mais de cinco minutos deu pano para manga para tantos assuntos dentro de um mesmo post, imagine o tamanho da discussão que a construção da usina vem travando. Se eu pudesse fazer um pedido a você agora, eu te diria para ler mais de um jornal, entrar em outros portais de notícias, dar uma variada no canal na hora do telejornal e comprar outras revistas. Entre no site do projeto se você é contra a Belo Monte, mas não se limite a dizer que tudo que você sabe sobre a usina é o que você ouviu no Fantástico. Ah, e quanto ao vídeo... Maitê Proença, minha querida, você é três vezes e meia mais bonita que a Sarah Silverman, mas poderia ter ficado sem essa de tirar o sutiã, né? 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Quem declara agora é você!