3 de novembro de 2011

"Eu não sei" e sou feliz assim

Tenho andado um tanto quanto embasbacada com certos comentários que ouço por aí. Talvez - e é bem provável que seja por isso mesmo - essa sensação não passa de um reflexo de uma vida universitária. Afinal, é uma fase tão intensa, tão cheia de cheiros e novos prazeres, que me dá até vertigem, não são poucas as vezes em que me falta o chão. É algo como um momento de prazer e de pura excitação que leva quatro anos para passar e quando passa exige alguns meses até que você recobre sua respiração e seu batimento cardíaco.

Depois de um período de profunda inquietação, beirando o desespero, pensando que eu perdera a capacidade de ter opinião e continuar produzindo textos como antes - textos esses que dividi com vocês aqui no Declarando - creio que encontrei uma balsa segura para atravessar esse mar escuro de incertezas. Mas se engana quem pensa que "conclusão" é o nome dessa balsa. Tenho arrepios na espinha com essa palavra. É só ouvir "conclusão" e pimba!

Percebi que não preciso ter pregado na parede um certificado de doutora em cada assunto que eu quiser, precisar ou ser obrigada a abordar. Basta seguir os mandamentos do bom senso: pesquisar, consultar fontes com visões que divergem entre si (os tais dos "especialistas"), ouvir os não especialistas, construir uma argumentação, confrontá-la com os que pensam diferente para, então, amadurecê-la e só depois, enfim, assumir um posicionamento firme, com argumentos fortes. Mas, atenção! Posicionamento firme para mim nunca foi sinônimo de conclusão (tô fora!). Procuro fugir de posições irredutíveis. Quero mesmo é provocar quem e o quê me provoca para, quem sabe, poder dizer "eu estava errada".

Essa coisa de "vários lados da mesma história", confesso, já me assustou, mas agora não me amedronta mais. O que ainda me incomoda são pessoas que têm opinião sobre tudo ou que acham que todos devem ter opinião sobre tudo. Nada mais blasé. Nada mais forçado. Esforço-me para conseguir aprender e assimilar o máximo possível do que aconteceu e acontece no mundo, mas do alto dos meus 19 anos eu te digo, meu amigo, experimente pronunciar o "eu não sei". Vamos! São só oito letras. Garanto que você pode soltar um extenso e firme "eu não sei" e ainda assim continuar sendo feliz.

Eu não sei o que acho de Belo Monte, mas li e adorei o último texto da Eliane Brum na Época Online. Não tenho certeza de como julgo o governo da Cristina Kirchner, o que não quer dizer que eu não tenha lido textos e mais textos - de Folha à Carta Capital - no último dia 23 de outubro, dia de eleição presidencial na Argentina. Apesar de pender para o lado do sim, ainda não consegui debater o quanto eu queria a descriminalização da maconha para assumir algum posicionamento. Sou, sim, a favor de greves, mas não sei como equalizá-las no setor da saúde.

Encontrei a humildade para conseguir assumir tudo isso quando passei a aceitar a ideia do "homem construção", e não mais de um homem perfeito, decidido, 100% disciplinado e cumpridor de normas e leis. Sou praticante da ioga do "eu não sei", do pilates do "não sei ainda" e da ginástica do "estou procurando saber". Para arrematar, salve Teté Ribeiro que no programa Saia Justa (GNT) do último dia 2 de novembro colocou para fora todo seu inconformismo com essa ideia de ser humano infalível. Para ela, dane-se se o cantor sertanejo filho do Francisco tomou um porre de diurético com uísque. Para mim, que se dane se você não sabe de tudo. Quem já conhece "todas as palavras", foi para "todos os lugares" e aprendeu tudo, pode partir. Quero a fome do que está por ser aprendido, a sede do que virá a ser descoberto e o prazer do que há de ser vivido. Quero na Terra os incompletos, os insatisfeitos, os que têm coragem de dizer "eu não sei".

2 comentários:

  1. B.P, textos sempre certeiros e impecáveis. Assumir a doutrina do 'eu não sei' atualmente, é um grande desafio, mas confesso, que por mais que possamos ser julgados, 'não saber' é uma delícia. 'Não saber' nos dá a opção de entender, nos proporciona o prazer de descobrir e redescobrir, nos coloca a frente de uns metidos a sabichões que só dizer que sabem de tudo, na verdade não sabem de nada. E como vc citou: "Quem já conhece "todas as palavras", foi para "todos os lugares" e aprendeu tudo, pode partir(...)", quem já sabe pode ir embora.. de que vale a vida se vc não tem mais nada pra aprender? Também quero continuar sem saber por mt tempo de mta coisa.. Quero continuar caminhando, descobrindo, reinventando, observando, aprendendo e tendo minha própria opinião. E eu confio que nessa caminhada do 'não saber' terei muitos companheiros, mesmo que não tão perto. Quer ir comigo também B.P? Nem preciso repetir o quanto te admiro e adoro seu blog. Continue 'sem saber' e, mesmo que pareça contraditório, saberá muitas coisas. Beijos, saudades. ♥

    ResponderExcluir
  2. Bia!
    Pode ter certeza que essas pessoas que não conseguem proferir um mísero "eu não sei" estão por toda parte! São tipo um praga mesmo... invadem com mais força o meio acadêmico, mas olhe em volta r perceberá que até na família há um agradável exemplar da espécie "tenho opinião formada sobre tudo"! rsss!

    Saudades, gêmea! =)

    ResponderExcluir

Quem declara agora é você!