Vamos falar de teatro? Eu
quero apresentar para vocês um musical que está em cartaz no TUCA, o teatro da
minha universidade. Não me entenda mal por esse “minha”, caro leitor, mas há
uma coisa na vida chamada “espírito puquiano” que contagia aqueles que entram
na Pontifícia e os faz ter a impressão de que todas as dependências são deles.
Pobres de nós, aprendizes de megalomaníacos. Tse tse tse...
De volta ao teatro, “Enlace – a Loja do Ourives” é um musical com ares de mega
produção: são 26 atores em cena cantando e dançando ao som de uma orquestra com
10 músicos e outros tantos profissionais por trás das cortinas que garantem as
trocas de roupas e cenários. Afinal, um espetáculo que vai e volta nos três
tempos da história – anos 30, 60 e 80 – precisa de fôlego para segurar bem as
2h15 em cena. Dica :
se essa coisa de atores cantando e dançando não costuma te agradar, não perca
seu tempo indo ao TUCA. “Enlace” é para quem gosta – ou pelo menos não desgosta
– de um enredo agitado, com idas e vindas e diálogos que terminam em cantoria.
Foto: Divulgação |
Já
falei do formato, agora vamos à história. Antes de qualquer coisa você deve
ficar sabendo que o texto é adaptado do original de 1960 escrito pelo Papa João
Paulo II. À época ele ainda não havia se tornado Papa, seu nome era Karol Wojtyła e sua função, bispo da Cracóvia.
Aqui
eu faço duas considerações de extrema importância sobre “Enlace”: 1) Já que foi
um homem da Igreja Católica que escreveu, a peça é religiosa? Não, a peça não
pretende catequizar ninguém. A palavra-chave é amor. O enredo é nada mais que
uma proposta de reflexão sobre o que fazemos do nosso amor e do amor dos
outros. Isso se dá através das três grandes mulheres: Teodora – matriarca da
família e apegada à tradição –, Ewa – a hippie nada afeita aos rituais e toda independente
– e Mallina, a caçula do trio, moderninha, cheia de dúvidas sobre o casamento.
(Laila Garin leva a platéia às gargalhadas com essa personagem.)
Segundo
ponto importante: não ser carregado de costumes católicos não significa que o
enredo seja ousado, questionador de valores, de vanguarda. Karol Wojtyła era
até “moderno” para sua época, foi também ator, mas não espere dilemas sexuais
ou um final surpreendente. Se você acha que um enredo sobre amor é, então, um
enredo religioso, aí é com você. Da mesma forma que se você achar que
problematizar o amor através do casamento esteja fora de moda, “Enlace” talvez
não seja uma experiência para eu te indicar. Mas o musical veio para mim como
uma oportunidade interessante de ver refletidas em personagens ficcionais
situações com as quais já me deparei (você provavelmente também) como os
sentimentos controversos de um casamento falido, as expectativas carregadas por
gerações, medos e angústias nas relações interpessoais.
Para
preparar a reportagem para a TV PUC (que coloco no fim deste post) eu fui
conferir o musical, mas já voltei outras vezes atraída pela trilha sonora nota
dez do Thiago Gimenes, o texto rápido e bem adaptado para o português do Elísio
Lopes (irmão do Lázaro Ramos – que família!) e atuações que nos prendem do
começo ao fim, como a suave Teodora da Françoise Fourton, o garbo do Luiz
Guilherme no papel de Ourives, a vivacidade da Giselle Tigre como a
“anti-heroina” Basha, a estereotipada e acertada Tia Jô feita pela Chris Ferri e
o charme do Claudio Lins em um encantador Adão – para citar apenas cinco atores,
alguns que eu entrevistei, de um grupo que está muito afiado. Todos sob a direção geral do Jô Santana.
Os preços – há de se informar – não são os mais “populares” da praça, mas quem
não tem carteira de estudante também consegue os 50% de desconto. Basta
adquirir o ingresso com ação social, o que implica na doação de uma lata de
leite em pó ou Mucilon que será entregue à Cruz Verde. Outra dica é acompanhar
a página da “Enlace” no Facebook onde acontecem promoções e você pode assistir
à peça na faixa.
A
foca adorou mais um desafio de cobrir peças de teatro (o drama do lugar comum e
das “mesmas perguntas” mandam lembrança!) e então decidiu compartilhar a
experiência com vocês. Para quem está procurando um musical em São Paulo para se
divertir, “Enlace – a Loja do Ourives” é uma boa pedida e fica em cartaz até 12
de agosto. Quanto ao TUCA, enfim, é muita história dentro de um só teatro: vale
a googada e a visita! Fica aqui o depoimento de quem foi “enlaçada” e espera
que vocês sejam também! Ou, ao menos, que se dêem a chance.
*
Ana Beatriz é estudante de jornalismo e aquelas coisas descritas no perfil ali
ao lado. Quanto ao “foca” explica-se: é o termo que usamos na rodinha
jornalística para se referir aos recém formados.
A peça é excelente e os atores de muita qualidade!!!
ResponderExcluirParabéns, Ana pela reportagem! Arrasou!
Parabéns pelo texto! Traduz exatamente o que sinto por 'Enlace'.
ResponderExcluirGostei tanto do musical que já o assisti cinco vezes. Só que não moro em São Paulo, mas no Rio de Janeiro! Enquanto o espetáculo não vem para o Rio, vou fazendo a ponte aérea...
Ana Beatriz, aqui está outra 'enlaçada'. Parabéns!