16 de outubro de 2010

É pau, é pedra – é o fim do caminho

Somos 135,9 milhões de brasileiros aptos a votar nesta eleição, 2/3 da população brasileira que no próximo dia 31 decidirão qual cor tingirá nossa estrela pelos próximos 1.460 dias, qual será o ritmo de nosso brado retumbante e o tom de nossa pátria mãe gentil. Desses brasileiros, 52% são mulheres, o que sugeriria, a priori, que o resultado poderia sofrer algum tipo de interferência sexista. Não sofreu. Ganharam as brasileiras, ganhou o país. Se a legitimidade do pleito está assegurada pela participação ampla do povo brasileiro, em contrapartida, sua ética e integridade não estão. E há quem discorde?

Desconhecido por boa parte do eleitorado, já que 54% desse não concluíram o primeiro grau, Winston Churchill reparou algo importante no Reino Unido de seus anos belicosos: em suas próprias palavras, quando a controvérsia política se torna excitante, as pessoas com temperamento colérico e limitada inteligência se transformam facilmente em pessoas ordinárias. Qualquer semelhança com o que vemos hoje não é mera coincidência. Se não estamos frente a um espetáculo no qual o ordinário virou trivial, ao menos podemos dizer que estão brincando com nossa inteligência, gastando nossa paciência, abusando de nossa disposição.

Há uma oposição (oi?) que mais parecia brincar de casinha com a situação, precavendo-se ao máximo para não desagradar ao dono da roda e escondendo quem ela própria acusou o governo petista de ter esquecido durante a octaetéride lulista. Com um segundo turno que ninguém sabe, ninguém viu e votação expressiva de senadores e governadores PSDBistas, parece que a oposição, finalmente, assimilou que ela é o que é porque não está no governo, logo, deve agir. Já indicaria o livro do Apocalipse: há de se optar pelo quente ou pelo frio para não cair no vazio da mornidão que induz ao vômito. Perdoe o palavreado, caro leitor. Pobre de nós com essa oposição.

Não bastasse o que é de praxe durante um primeiro turno – muita gente, muito falatório, muita amizade, muita superficialidade – qual é nossa surpresa em um segundo turno que se esperava ser marcado pelo embate de propostas realizáveis e discursos inteligíveis? Abortaram o discurso, minha gente! No debate do dia 10, na Bandeirantes, o que se viu foi um festival de acusações seguidas por réplicas carregadas de ironia e “não conheço”, “não sei”, “nunca vi mais gordo” – ou mais Preto. E a candidata Dilma, poxa candidata, logo a senhora, que tem um mentor tão articulado e falastrão, como pôde ficar tão monotemática? Privatização foi a palavra de ordem. Privatização e mil caras, claro. Se parassem por aí (não) estaria tudo bem, mas a coisa degringolou de vez.

É um tal de “entidade religiosa” para cá, “movimentos religiosos” para lá e uma mania de dizer que é a favor da vida que seria cômico se não fosse trágico. Como bem colocou Maria Rita Kehl em entrevista à revista Carta Capital, por algum acaso, alguém não é a favor da vida? Que coisa é essa de padres e pastores se acharem no direito de decidir o que vira lei ou não e exigirem o posicionamento dos candidatos, sendo aceitos apenas posicionamentos religiosamente enviesados? Que coisa é essa dos candidatos aquiescerem? Que coisa é essa de candidato precisar explicar suas crenças religiosas? Que coisa é essa de candidato intercalar suas frases com o nome de Deus? A prática religiosa é assegurada pela Constituição, mas senhores candidatos, isso aqui não, violão!

“Uma eleição é feita para corrigir o erro da eleição anterior, mesmo que o agrave” – Drummond e seu aforismo não me deixam mais dormir em paz. Que o próximo 31 de outubro nos traga uma resposta firme no que diz respeito aos problemas que afligem o país e colocam em risco sua imagem de privilegiado: guerra cambial, gargalos na infraestrutura, pré-sal clamando por atenção no lugar de empolgação, sistema previdenciário febril, reforma tributária engasgada. Que na tarde desse domingo, o resultado das urnas seja anunciado com a mesma esperança de renovação que da varanda da Basílica de São Pedro, em Roma, é anunciado um novo papa. E que não seja um delírio poder bradar “Habemus Brasil”!


Em tempo, "A moral especulativa" por Gaudêncio Torquatto (O Estado de S. Paulo, 17/10)

7 comentários:

  1. Não tava sabendo disse não... eee PUC maravilha e seus problemas, quer dizer que vcs vão ter um prolongamento da semana de saco cheio?
    Se quiser conversar mais me add no msn tcivatti@hotmail.com , meio estranho ficar conversando nos blogs... hahaha
    Depois eu prometo que volto e leio seu post, não estou muito afim de pensar agora, seus posts sempre me levam a pensar, e muito... rs

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  2. Garota, estou impressionado com o teu
    vocabulário. É quase uma poetisa !

    Quantos as eleições de domingo abro o meu voto:

    Votarei no "menos pior" !


    Alexandre

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  3. É meu caro, vamos evocar pai Drummond mais uma vez já que o que você disse remeteu-me a ele:

    "A eleição é um processo democrático de escolher o melhor, o sofrível e o pior, sem distinção."

    Será?

    Quanto ao elogio, muito obrigada!

    Beijos.

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  4. Êee menina que escreve bem, meu deus!! Hahaha...
    Bom, vamos lá... Uma coisa que eu venho percebendo no mundo, hoje em dia, é que a política foi se tornando - claro que com um objetivo evidente - um assunto para poucos e para os intelectuais. Adianta o que, nós meros universitários que não representamos nem 20% da população, termos ideais, ideias, expressões e novas visões se, enquanto isso, a real população, aquela massa volátil de nada mais nada menos que 60% de representatividade, vive sendo moldada por quem tem mais voz. Hoje em dia, política se tornou meramente um jogo de rivalidade demagógica, quem tem mais poder de manipulação senta no troninho de presidente, de governador, de deputado e de qualquer outra coisa e trás seus amiguinhos para sentar do ladinho dele e brincar de país. A ideologia foi jogada foi pisada, massacrada e jogada no ralo, para que os ratos intelectuais a dissequem. E, assim, o futuro do país fica, total e completamente, nas mãos do destino e da frivolidade, quem será que conseguirá dominar as massas dessa vez? Façam suas apostas porque o novo padeiro, ou padeira, vem ai... hahaha

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  5. Meus comentários estão muito redundantes..

    Seu texto mais uma vez está ótimo...

    Bjos

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  6. Hey,olha eu aqui!Estava devendo á você um comentário,mas esperei para escrever quando me viesse a mente um comentário a altura desse seu magnífico blog.
    Pois bem,esse seu texto ficou tão explicativo,estatístico,mas ao mesmo tempo tão poético,tão bom de se ler...
    Falando em Drummmond vc ganha ainda mais a minha admiração.

    Um abraço da sua amiga Pry.

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  7. Minha nossa! E pensar que eu dei aulas de ingles pra ela! Eu deveria ter tomado aulas de redação com ela.Seu texto esta im-pe-cá-vel! Parabens menina!

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