Em continuação ao post da semana passada, sobre os protestos que começaram no campus Monte Alegre da
PUC-SP após o anúncio do novo reitor, sigo com as notícias que partem de
Perdizes para os leitores deste Declarando. Acrescento antes a reportagem que a equipe da TV PUC-SP produziu após mais de 14 horas de cobertura - equipe com a
qual eu tenho orgulho de ter meu nome envolvido.
Anna Cintra foi nomeada
pelo Grão-Chanceler Dom Odilo Scherer, na segunda-feira (12), nova reitora da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Sob sua tutela estariam os seis
campi com mais de 15 mil alunos, sem contar a infinidade de funcionários –
professores, trabalhadores diretos e terceirizados. Embora nomeada por quem tenha
plenos poderes para tal – logo, não há “golpe”, o ato é legitimado pelo
Regimento da Universidade – a professora Anna não foi a mais votada na eleição
realizada em agosto com a participação de toda a comunidade puquiana. À sua
chapa, “A PUC vale a pena”, coube o terceiro e último lugar. (Leia no texto anterior como se dá o processo de escolha na PUC.)
Alunos durante Assembleia Geral (13/11) - Foto: Anali Dupré |
Analisando o resultado,
percebe-se que cada candidato obteve maioria de votos em um determinado
segmento: Dirceu de Mello venceu entre os funcionários, Francisco Serralvo foi
o preferido dos estudantes e Anna Cintra levou a maioria da classe docente. Mas
como os votos têm peso diferenciado e o resultado baseia-se em uma equação de
ponderação dos mesmos, esta deu a vitória a Dirceu por uma diferença em relação
ao segundo colocado de 1597,38 votos.
Anna não conquistou o
apoio da comunidade acadêmica e mesmo os seus pares que à ela entregaram seu
voto começam a questionar o peso nefasto que assumir nessas condições fará
sobre o currículo da professora – tida como rude, conservadora, “gerentona”. E
desde terça-feira (13) da semana passada só se faz confirmar a tese de que anos
de instabilidade estão por vir para a Pontifícia.
Após um feriado que
ameaçou esfriar os protestos, mas não conseguiu graças à nota falsamente atribuída à Fundação SP – mantenedora da PUC – que gerou uma reação em cadeia
de correntes virtuais, grupos de discussão no Facebook e articulações para
criar um “calendário de greve”, o campus voltou a ficar cheio nesta quarta
(21). Assembleias e reuniões de departamento foram realizadas durante todo o
dia a fim de definir posições de professores e alunos perante a paralisia das
aulas. À noite, houve confluência de todos os setores para o Teatro TUCA em uma
Audiência Pública.
Audiência Pública no TUCA (21/11). Foto: Aldo Quiroga |
Nada mais típico para a
Pontifícia do que um TUCA apinhado de gente, com palavras de ordem a costurar
as falas dos convidados e aplausos a consentir com críticas às gestões passadas
e pedidos por democracia. A Fundação SP não mandou representantes, a chapa que
ficou em segundo lugar não apareceu, restando ao "reitor reeleito de um mandato
só" e à sua "ex-futura-vice", Marcela Peçanha, os louros por quebrarem o silêncio.
Anna Cintra, depois da entrevista ao Estadão, sumiu. Sua assessoria não tem
sequer previsão de quando ela falará, - o mesmo para os secretários-executivos
da Fundação e o próprio Dom Odilo. E como “quem não se comunica, se trumbica”,
Anna Cintra não poderia estar em pior situação.
O cenário que se arma para
a nova reitora, além da insatisfação da comunidade acadêmica, conta com o
temido “corte de pessoal” – inexorável às transições –, o rombo nas contas da
universidade, a situação crítica de professores mal remunerados e trabalhadores
terceirizados, e o periclitante descompasso entre a tecnologia de ponta no
ensino superior e as instalações arcaicas da PUC, o que a impede de avançar em
cursos essencialmente técnicos.
Da mesma forma que se pode
dizer que todos os reitores mais votados pela comunidade foram nomeados pelo
Cardeal – sendo Anna a primeira exceção – não se pode afirmar que assim foram apenas
porque eram os primeiros da lista. O mais votado poderia ser, coincidentemente,
o preferido da Fundação. E alguns daqueles que estão na universidade há certo
tempo apostam nessa teoria. Sendo assim, não se pode dizer com todas as letras
que o resultado da eleição pautou as nomeações, endossando a democracia. O que
sempre houve foram ares de democracia. É necessário analisar por esse ângulo.
"Cadeirásso" no campus Monte Alegre. Foto: ABC |
Agora, é o momento de se
perguntar por que a Fundação SP prefere Anna Cintra? Por que ela é da corrente
conservadora e apresentará menor resistência às decisões polêmicas do núcleo
financeiro? Há forte indício. Entendo e respeito a ira que
professores, funcionários e alunos – nesta ordem – demonstram para com a
Fundação. Enquanto o último segmento é renovado a cada quatro anos, os demais
chegam a passar boa parte de sua vida naquela universidade, lecionando e
colocando a engrenagem para funcionar. Logo, têm sim o direito de fazer
piquetes para mostrar que estão insatisfeitos com a nomeação que respeita a
lei, mas desrespeita a tradição engendrada em mais de 30 anos de eleição.
Assim como a proximidade
das férias impede que os danos com a paralisação sejam maiores, ela também age
para colocar data de validade nos protestos. É de costume que a universidade
fique esvaziada já nos primeiros dias de dezembro, exatamente quando Anna
assumirá o novo cargo. Até a volta de todos, em fevereiro de 2013, muita água
já haverá de ter passado por essa ponte. Entretanto, não acredito que o desprezo
pela nova reitora será tão facilmente apagado. Um quadriênio de tensão tende a
se abater sobre a PUC-SP e eu só espero que a nossa universidade saia ilesa. Na
noite de hoje, enxerguei no soturno semblante da ex-futura-vice-reitora o
sentimento que se abate sobre toda a comunidade: a angústia por não ter a lei
ao seu lado. Só espero que, entre mortos e feridos, possamos sair todos vivos.
E que Anna Cintra encontre o seu caminho. Nem que seja o caminho da luz.
“Podemos facilmente
perdoar uma criança que tem medo do escuro;
a real tragédia da vida é quando os
homens têm medo da luz.”
Platão
Frase proferida pelo
professor Antonio Carlos Malheiros, na Audiência Pública, depois de anunciar à TV PUC seu desligamento da universidade em razão da nomeação de Anna Cintra.
Miss Clooney, parabéns... Essa é a minha ex-aluna: precisa, objetiva, dona desse texto reportero de dar água na boca.
ResponderExcluirBjao
Faro
Aaah professor, Miss Clooney sente-se imensamente prestigiada agora! Rsrs. Muito obrigada por ter dado essa passadinha e por ter parado para Declarar. Agradeço aos elogios. Grade beijo!
ExcluirParabéns foca! Ótimo texto!
ResponderExcluirOrgulho de trabalhar com você aqui na TV também e poder contribuir, mesmo que com boas discussões, com uma ou outra divergência! ;)
Bjo, Igor.
Obrigada, Igor! Adoro as nossas discussões na TV; são engradecedoras para ambos os lados. E também adoro trabalhar com você na nossa TV PUC.
ExcluirBeijos da foca.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAna Bia, você vai longe! Ótimo texto e, como sempre, é por meio deste blog eu me atualizo a respeito das últimas questões de nossa faculdade.
ResponderExcluirParabéns!