22 de novembro de 2012

PUC-SP continua parada com nomeação de reitora


Em continuação ao post da semana passada, sobre os protestos que começaram no campus Monte Alegre da PUC-SP após o anúncio do novo reitor, sigo com as notícias que partem de Perdizes para os leitores deste Declarando. Acrescento antes a reportagem que a equipe da TV PUC-SP produziu após mais de 14 horas de cobertura - equipe com a qual eu tenho orgulho de ter meu nome envolvido.


Anna Cintra foi nomeada pelo Grão-Chanceler Dom Odilo Scherer, na segunda-feira (12), nova reitora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Sob sua tutela estariam os seis campi com mais de 15 mil alunos, sem contar a infinidade de funcionários – professores, trabalhadores diretos e terceirizados. Embora nomeada por quem tenha plenos poderes para tal – logo, não há “golpe”, o ato é legitimado pelo Regimento da Universidade – a professora Anna não foi a mais votada na eleição realizada em agosto com a participação de toda a comunidade puquiana. À sua chapa, “A PUC vale a pena”, coube o terceiro e último lugar. (Leia no texto anterior como se dá o processo de escolha na PUC.)

Alunos durante Assembleia Geral (13/11) - Foto: Anali Dupré
Analisando o resultado, percebe-se que cada candidato obteve maioria de votos em um determinado segmento: Dirceu de Mello venceu entre os funcionários, Francisco Serralvo foi o preferido dos estudantes e Anna Cintra levou a maioria da classe docente. Mas como os votos têm peso diferenciado e o resultado baseia-se em uma equação de ponderação dos mesmos, esta deu a vitória a Dirceu por uma diferença em relação ao segundo colocado de 1597,38 votos.

Anna não conquistou o apoio da comunidade acadêmica e mesmo os seus pares que à ela entregaram seu voto começam a questionar o peso nefasto que assumir nessas condições fará sobre o currículo da professora – tida como rude, conservadora, “gerentona”. E desde terça-feira (13) da semana passada só se faz confirmar a tese de que anos de instabilidade estão por vir para a Pontifícia.

Após um feriado que ameaçou esfriar os protestos, mas não conseguiu graças à nota falsamente atribuída à Fundação SP – mantenedora da PUC – que gerou uma reação em cadeia de correntes virtuais, grupos de discussão no Facebook e articulações para criar um “calendário de greve”, o campus voltou a ficar cheio nesta quarta (21). Assembleias e reuniões de departamento foram realizadas durante todo o dia a fim de definir posições de professores e alunos perante a paralisia das aulas. À noite, houve confluência de todos os setores para o Teatro TUCA em uma Audiência Pública.

Audiência Pública no TUCA (21/11). Foto: Aldo Quiroga
Nada mais típico para a Pontifícia do que um TUCA apinhado de gente, com palavras de ordem a costurar as falas dos convidados e aplausos a consentir com críticas às gestões passadas e pedidos por democracia. A Fundação SP não mandou representantes, a chapa que ficou em segundo lugar não apareceu, restando ao "reitor reeleito de um mandato só" e à sua "ex-futura-vice", Marcela Peçanha, os louros por quebrarem o silêncio. Anna Cintra, depois da entrevista ao Estadão, sumiu. Sua assessoria não tem sequer previsão de quando ela falará, - o mesmo para os secretários-executivos da Fundação e o próprio Dom Odilo. E como “quem não se comunica, se trumbica”, Anna Cintra não poderia estar em pior situação.

O cenário que se arma para a nova reitora, além da insatisfação da comunidade acadêmica, conta com o temido “corte de pessoal” – inexorável às transições –, o rombo nas contas da universidade, a situação crítica de professores mal remunerados e trabalhadores terceirizados, e o periclitante descompasso entre a tecnologia de ponta no ensino superior e as instalações arcaicas da PUC, o que a impede de avançar em cursos essencialmente técnicos.

Da mesma forma que se pode dizer que todos os reitores mais votados pela comunidade foram nomeados pelo Cardeal – sendo Anna a primeira exceção – não se pode afirmar que assim foram apenas porque eram os primeiros da lista. O mais votado poderia ser, coincidentemente, o preferido da Fundação. E alguns daqueles que estão na universidade há certo tempo apostam nessa teoria. Sendo assim, não se pode dizer com todas as letras que o resultado da eleição pautou as nomeações, endossando a democracia. O que sempre houve foram ares de democracia. É necessário analisar por esse ângulo.

"Cadeirásso" no campus Monte Alegre. Foto: ABC
Agora, é o momento de se perguntar por que a Fundação SP prefere Anna Cintra? Por que ela é da corrente conservadora e apresentará menor resistência às decisões polêmicas do núcleo financeiro? Há forte indício. Entendo e respeito a ira que professores, funcionários e alunos – nesta ordem – demonstram para com a Fundação. Enquanto o último segmento é renovado a cada quatro anos, os demais chegam a passar boa parte de sua vida naquela universidade, lecionando e colocando a engrenagem para funcionar. Logo, têm sim o direito de fazer piquetes para mostrar que estão insatisfeitos com a nomeação que respeita a lei, mas desrespeita a tradição engendrada em mais de 30 anos de eleição.

Assim como a proximidade das férias impede que os danos com a paralisação sejam maiores, ela também age para colocar data de validade nos protestos. É de costume que a universidade fique esvaziada já nos primeiros dias de dezembro, exatamente quando Anna assumirá o novo cargo. Até a volta de todos, em fevereiro de 2013, muita água já haverá de ter passado por essa ponte. Entretanto, não acredito que o desprezo pela nova reitora será tão facilmente apagado. Um quadriênio de tensão tende a se abater sobre a PUC-SP e eu só espero que a nossa universidade saia ilesa. Na noite de hoje, enxerguei no soturno semblante da ex-futura-vice-reitora o sentimento que se abate sobre toda a comunidade: a angústia por não ter a lei ao seu lado. Só espero que, entre mortos e feridos, possamos sair todos vivos. E que Anna Cintra encontre o seu caminho. Nem que seja o caminho da luz.

“Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; 
a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz.”
Platão  


Frase proferida pelo professor Antonio Carlos Malheiros, na Audiência Pública, depois de anunciar à TV PUC  seu desligamento da universidade em razão da nomeação de Anna Cintra. 

6 comentários:

  1. Miss Clooney, parabéns... Essa é a minha ex-aluna: precisa, objetiva, dona desse texto reportero de dar água na boca.

    Bjao

    Faro

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    1. Aaah professor, Miss Clooney sente-se imensamente prestigiada agora! Rsrs. Muito obrigada por ter dado essa passadinha e por ter parado para Declarar. Agradeço aos elogios. Grade beijo!

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  2. Parabéns foca! Ótimo texto!

    Orgulho de trabalhar com você aqui na TV também e poder contribuir, mesmo que com boas discussões, com uma ou outra divergência! ;)

    Bjo, Igor.

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    1. Obrigada, Igor! Adoro as nossas discussões na TV; são engradecedoras para ambos os lados. E também adoro trabalhar com você na nossa TV PUC.

      Beijos da foca.

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  3. Ana Bia, você vai longe! Ótimo texto e, como sempre, é por meio deste blog eu me atualizo a respeito das últimas questões de nossa faculdade.

    Parabéns!

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