Cultura não é, nem de
longe, a área com a qual a foca tem mais afinidade, mas me senti tentada a
escrever sobre o filme que me proporcionou ótimo momento neste fim de semana. Falo
do “Liv & Ingmar - Uma História de Amor" sobre a relação de 42 anos
entre a atriz Liv Ullmann e o cineasta Ingmar Bergman – primeiro como
companheiros de trabalho, depois como marido e mulher, e por fim como grandes
amigos.
Na Folha, li que o filme acabara
por se tornar enfadonho; o Estadão – que deu a capa do seu “Caderno 2” de sexta – foi só elogios,
especialmente acerca da sensibilidade com a qual o diretor Dheeraj Akolkar
aliou o que lhe contou Liv com as cenas dos filmes de Bergman que ela
protagonizara, arrematando com as belas paisagens norueguesas. O resultado,
definitivamente, me encantou de tanta sublimidade.
“Liv & Ingmar” está blocado
em sentimentos, partindo do amor entre os dois, passando pela solidão de Liv e
culminando na saudade – esse último, meu preferido. Este é o momento em que
enxerguei uma Liv de feridas cicatrizadas e me deparei com a dor mais inexorável
e incombatível de todas que é a saudade. Um recurso muito utilizado pelo
diretor Akolkar – aproximar a câmera da parte superior do rosto de Liv,
deixando seus olhos azuis no centro da tela – ajuda-nos a perceber uma virada de
sentimentos. A mulher, que até então se mostrara plenamente ciente de sua história
a ponto de entregar ao público a análise madura de uma relação amorosa
umbilical, se transforma sob nossos olhos em pura saudade. E chora.
Aos leitores que se
renderem à história e forem assistir ao filme, dedico as cenas dos desenhos na
parede sob os raios do Sol, o bilhete no urso e o Stradivarius. Ah, o
Stradivarius... Essa alusão à marca mais cara e cobiçada de violinos provocou
suspiros na sessão.
Aqui em São Paulo, “Liv
& Ingmar - Uma História de Amor” está em cartaz em apenas quatro salas – três
do Itaú mais o Reserva Cultural, na Avenida Paulista. Eu estive no Espaço Itaú
de Cinema do Shopping Bourbon, onde o filme é exibido em sala especial de
apenas 60 lugares, com poltronas de couro enormes e confortabilíssimas. A
contrapartida é que os horários não são tão flexíveis quanto nos demais endereços.
Peguei a sessão do sábado à tarde, uma das mais propensas aos espectadores por
acidente – aqueles que param em frente à bilheteria e escolhem pelo título,
pelo cartaz ou pelo que quer que seja, que não o enredo. Tive sorte. Nada de sala
abarrotada, conversinhas paralelas e gente que mais parece ter prego no assento.
Sobre a faixa etária, posso dizer com segurança que todos os poucos espectadores tinham idade para serem meus pais.
Aos que estão dispostos a
conhecer a trajetória da atriz e do cineasta, desejo que tenham uma sessão tranquila
para que possam se concentrar naquele rosto nórdico e marcado pelo tempo de uma
mulher que nos conta a história de seu grande amor, aquele que começou e terminou seguindo a trajetória dos amores genuínos. Liv e Bergman foram da paixão
à amizade e assim se tornaram eternos.
A correspondente da Globo News em Nova York, Sandra Coutinho, fez uma entrevista bem acertada – e emocionante para ela – com a Liv Ullmann, o que me despertou para a história do casal. Vale a pena assistir antes ou depois do filme.
*** Para quem ainda não está habituado com o "foca", recorrente aqui no Declarando, explica-se: é o termo que designa jornalistas em começo de carreira.
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