Pronto. O dia 21/12/12
passou e nenhuma hecatombe aconteceu. Que me desculpem os apaixonados pelos
filmes de apocalipse, mas ainda não foi desta vez que vocês fizeram cosplay do "Independence
Day", "Armageddon", ou coisas do gênero. Precisaremos pagar a
fatura dos nossos cartões de crédito, comprar os presentes de última hora e arrumar as malas para as férias. Ufa!
Já que a pauta do fim do
mundo caiu, vamos a um fim cuja previsão, infelizmente, não estava mal
calibrada. Deram um chega para lá na Mônica Waldvogel, que atingiu também a
super Teté Ribeiro, e o Saia Justa foi para as cucuias! Um programa com esse
nome ainda continuará no ar, mas quando a alma se vai, de nada adianta o corpo
presente... Esvaziar um programa em sua essência e mantê-lo no ar, agonizando, apenas pela patente adquirida é mais uma demonstração de como a TV pode ser um
negócio canalha. Mas eu vou deixar que a Nina Horta fale por mim. (Em tempo, apoio
integralmente a ideia do PROCON para assuntos televisivos, Nina!)
Mônica W. Teté R., Xico Sá e Maria Fernanda Cândido no estúdio para a última gravação desta formação |
Conversei com muita gente
que me rodeia sobre a saída da Mônica e uma dessas pessoas me mostrou que
negá-la seria negar a mim mesma. Ela sai pelo princípio mais antigo
e visceral da renovação. Essa que, por sua vez, é crucial para qualquer passo adiante que esta jovem jornalista deseje dar na carreira. Sendo assim,
renunciar à troca de comando do Saia Justa seria renunciar, por mais que indiretamente, às chances que eu teria na vida.
Se eu concordo? O que eu sei é que, como diz Jorge Mautner – evocando o jornalista
e político da era getulista, Benedito Valadares –, “na prática, a teoria é
outra”.
Afetando-me ou não, direta
ou indiretamente, fato é que ela sai e eu chego. Se um período do passado da
Mônica ganha agora um ponto final, o meu futuro acabou de abrir um parêntese. Depois
de quase dois anos de TV PUC, parto para um estágio na TV Globo São Paulo. Nos
dias posteriores à ligação com as boas novas, um pensamento não saía da minha
cabeça: qual foi a melhor coisa que não aconteceu comigo. A pergunta veio de um
Saia Justa recente, quando a própria Waldvogel contou que ser gongada duas
vezes na emissora dos Marinho, em São Paulo, lhe permitiu aceitar o convite da
sucursal de Brasília, o que a levou a cobrir a Constituinte de 88, a primeira eleição direta
para presidente da República, o impeachment de Collor três anos depois.
Cheguei a conclusão de que
o melhor para mim fora ter sido preterida pela instituição de ensino que eu julgava
ser a melhor, o que me deixou livre para
adentrar o universo puquiano. No crepúsculo do primeiro ano de faculdade, pleiteei uma vaga de assistente de editor em um jornal de
horário nobre de outra emissora paulista. Segundo pessoas do núcleo, a recusa
deveu-se à operação de miopia e catarata que me obrigaria a ficar de molho por
duas ou três semanas. Passei para a mesma vaga, mas nos jornais matutinos, e
apesar de sentir que aquele seria o momento de quebrar a rotina, recusei justamente
por ter que virar meu dia de ponta cabeça, com um carro da emissora me pegando em
casa às 5h da manhã.
Após os dois nãos – um de
cada parte – ainda fui direcionada para mais três vagas na mesma emissora e
algo me fez ficar onde eu estava. Até sei o que foi... Infelizmente, um
projeto que eu não tive a ousadia necessária para colocar de pé, mas que cedeu lugar a um programa de entrevistas com jornalistas que eu e minha colega
Gabriela Costa criamos, com a retaguarda dos nossos diretores – Maristela Grossi
e Julio Wainer. Nosso “Entrevista Coletiva” está aí, com a primeira temporada a
nos encher de orgulho e boas lembranças de trabalho pesado. Que cresça forte e
reverbere a nossa criatura.
Ter permanecido por mais
um ano na TV PUC foi essencial para exercitar o que eu começara a aprender nos
primeiros sete meses de TV universitária. Tive contato com políticos, líderes
de movimentos sociais, professores que são "mestres" não apenas pelo diploma que têm,
outros não tão articulados assim – e repórteres precisam aprender a lidar com
isso –, cobri eleições para reitor e os desdobramentos com a recente escolha do Grão-Chanceler, mas acima de tudo, pratiquei o rico exercício do embate de ideias. Se
eu pudesse desejar algo para os focas seria que todos tivessem a chance de
passar pela TV PUC, o lugar onde temos liberdade para criar, espaço para
entender o modelo tradicional, apoio irrestrito nessas empreitadas e,
principalmente, respeito – por quem somos, pela nossa bagagem, nossas
deficiências e dons, e pela pessoa na qual nos transformamos. Não fosse ter
entrado na PUC, as experiências seriam outras, mas estas foram tão marcantes que eu as defendo com unhas e dentes.
O que eu aprendi – e levo
comigo – deste primeiro grande périplo profissional talvez seja o que me faz
rir só com a possibilidade do fim dos tempos e pedir vênia para discordar dos
que ainda acreditam nisso: nada acaba por completo, tudo se modifica. É o mesmo
princípio da energia. Se a nova forma não for visível e palpável – como o
repaginado Saia Justa (cof cof cof) – ela certamente terá seu lugar reservado
no mundo das imaterialidades. Já foi dito, “tudo o que é
sólido desmancha no ar”, e Mônica e eu chegamos ao nosso momento de mudar de
forma. O que fizemos, cada uma com sua grandeza, em seu terreno, com sua paixão
e entrega, está lançado ao mundo, não nos pertence mais. Apesar de que
pertencerá para sempre. Chegou o momento de jogarmos o chapéu e nos expormos ao
Sol do que há de vir. Que seja quente, que seja intenso. Enquanto durar.
Feliz 2013, amigos! Saúde,
paz e entrega.
*** Para quem ainda não está habituado com o "foca", recorrente aqui no Declarando, explica-se: é o termo que designa jornalistas em começo de carreira.
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