Finalmente, vamos respirar mais aliviados

Sete de agosto de 2.009: um divisor de águas, um belo dia para se recordar, afinal é a partir desse dia que vamos nos ver livres daquela fumaça toda na capital paulista. Não apenas da fumaça que incomoda, que cheira mal, como também da fumaça que mata. O fumo passivo está em terceiro lugar no ranking mundial de causadores de mortes evitáveis e quando se trata do fumante ativo os dados são mais assustadores ainda: por hora no Brasil, morrem cerca de dez pessoas em decorrência do fumo e, a cada ano, perdemos cerca de quatro milhões de pessoas de forma prematura graças ao tabaco. Quando pensamos então em cânceres gerados pelo cigarro os números se mostram inacreditáveis: 97% das mortes por câncer de laringe está diretamente ligado a essa praga. Lembrando que esses dados são da OMS.

Realmente, a situação não é nada confortável nem para quem fuma, muito menos para quem é obrigado a inalar todas as substâncias oriundas da tragada do amigo ao lado. Para dimensionar: um fumante passivo entra em contato com 4.700 substâncias químicas, entre tóxicos sistêmicos, irritantes, mutagênicos e carcinógenos, os facilitadores do câncer. Existem ainda, claro, os problemas imediatos como irritação ocular, dor de cabeça, vertigem e infecção respiratória. É, vivemos em meio a nuvens de fumaça nada límpidas.

Entretanto, essa situação tem tudo para sofrer uma mudança brusca, e para melhor, acredite! O motivo de discussão, burburinho, mas principalmente comemoração deste sete de agosto é, justamente, a entrada em vigor da lei Antifumo sancionada em maio pelo governador de São Paulo, José Serra. Agora é oficial que o fumo em lugares fechados de uso coletivo não é mais legal, se transformou em motivo de multa e até interdição do estabelecimento. O valor cobrado do proprietário varia de 792 a 3.000 reais, de acordo com a reincidência, mas ao acumular quatro flagrantes a situação muda e a punição passa a ser de interdição do local por trinta dias. A Vigilância Sanitária da capital, chefiada pela mulher mais entrevistada nos últimos dias, Maria Cristina Megid, contará com o apoio do Procon, operando assim com quinhentos funcionários encarregados de supervisionar os 57.000 estabelecimentos paulistanos onde o fumo foi abolido.

Ruim para alguns fumantes convictos, ótimo para garçons, músicos, hostess e, em geral, para toda a população. Convenhamos que não seja nada agradável ter seus sentidos invadidos pela poluição da mesa ao lado ou até da sua própria no momento de degustar um belo vinho, de saborear um prato daqueles ou de jogar conversa fora com os amigos. Nada contra os fumantes, tudo contra fumarem perto de mim. Fumar é um direito e uma opção de cada um assegurados pela Constituição e pelo livre arbítrio, entretanto, o seu direito vai até onde começa o meu. Fumar pode, mas desde que seja no seu carro, na sua casa, ou em ambientes abertos, porque aí o prejuízo deixa de ser coletivo e passa a ser apenas seu; portanto, cuide dele.

Essa reivindicação não é minha, não é sua, não é de cada cidadão, é do senso coletivo de uma maneira geral. A cidade pede por isso. Cabe a nós desempenhar o papel de agente da Vigilância Sanitária, do Procon, mas principalmente, de amigo da coletividade, da saúde pública. Sozinhos, tudo bem, não podemos provocar grandes transformações, mas assim como um montante de pessoas compõem dados tão tristes como os que citei no começo, outro montante mais denso ainda pode compor a junta da prevenção, da propagação da vida saudável sem cigarro. E assim, os que se dizem agora "prejudicados", "censurados", os tais dos fumantes, perceberão que o que quer a Lei Antifumo, todos nós e a cidade, é impedir que vidas sejam ceifadas, disperdiçadas, reduzidas a tristes montantes estatísticos.

Enfim, respiremos aliviados!