14 de novembro de 2012

PUC-SP para em processo de eleição para a reitoria

Atualizado às 09h11 de quarta-feira

Passava um pouco das oito horas da noite quando chega à Redação da TV PUC, primeiramente através do Twitter do professor José Salvador Faro e depois pelo próprio site da PUC, a informação de que Anna Cintra seria a nova reitora da universidade, em contraposição à eleição que deu a Dirceu de Mello mais um mandato. Conversas iniciais em uma Redação quase vazia, pelo andar da hora, evoluíram para apuração. Fora dada a largada para a cobertura que chacoalharia brutalmente a noite da foca, que só pensava em terminar de editar sua reportagem e ir para casa assistir à dobradinha Jornal das Dez - Entre Aspas (Globo News).

Dom Odilo Pedro Scherer, Grão-Chanceler e Presidente do Conselho Superior da Fundação São Paulo, assinou na tarde da última segunda-feira (12) o Ato que nomeia Anna Maria Cintra como reitora e José Eduardo Martinez como vice-reitor, passando ambos a assumir no dia 29 de novembro; os mandatos a frente da universidade são de quatro anos. A Fundação São Paulo (FUNDASP) é a mantenedora da Pontifícia e, portanto, participa das decisões através do Conselho de Administração (CONSAD) com os secretários executivos João Júlio Farias Júnior e José Rodolpho Perazzolo. O terceiro membro do conselho, e seu presidente, é justamente o reitor – cargo que nos últimos quatro anos foi de Dirceu de Mello.

Estudantes na "Prainha" durante Assembleia Geral (Rute Pina/AgeMT)
Assim que a decisão foi anunciada no site da universidade e enviada à comunidade, no começo da noite de terça-feira, alunos e professores começaram a se aglomerar na “Prainha” – espaço que reúne restaurantes e centros acadêmicos. A partir daí foram ouvidos gritos de “Fora Anna Cintra”, “Ocupa a PUC” e “Não passará”.

Explica-se o motivo do descontentamento e clima de indignação que reinou no campus Monte Alegre através de palavras de ordem em uníssono e cartazes improvisados. O processo de escolha do reitor, como indicado no artigo 59 do Regimento Interno, envolve a preparação de uma lista tríplice pelo Conselho Universitário (CONSUN) da qual uma chapa será escolhida pelo Grão-Chanceler. Entre as duas pontas, há uma eleição para que alunos e funcionários (com peso diferente de voto) indiquem seu preferido para estar à frente da universidade. No Regimento, não consta que o resultado da eleição deve ser respeitado e seguido pela FUNDASP, mas até então, ele nunca fora contrariado.

É justamente o espanto para com a não observância do resultado que exaltou os ânimos nesta terça. Não era difícil escutar comentários preocupados com as próximas decisões a serem tomadas pela Fundação – a liberdade de cátedra figura, disparado, como principal ponto de atenção. Mas não é de hoje que a comunidade recebe mal as decisões da FUNDASP, sob a tutela de Dom Odilo. O nome de seu antecessor, Dom Paulo Evaristo Arns, nunca fora tão evocado como nos últimos tempos. Aqui é importante comentar que Monte Alegre sempre foi o campus mais combativo, até porque é o maior e mais heterogêneo entre todos (Consolação, Ipiranga, Santana, Barueri e Sorocaba), sem contar que é ao lado dele que se encontra o Teatro TUCA, marco da resistência à ditadura na cidade.

Carteiras no Pátio da Cruz (@vigattas/Instagram)
Por volta das 9h30 da noite, a Assembleia Geral com mais de 150 participantes, decidiu por greve, invasão da Reitoria e “cadeiraço” – ato que resultou em carteiras empilhadas no Pátio da Cruz e espalhadas pelos corredores do mesmo prédio. A decisão mais polêmica, sem dúvida, é a invasão da reitoria. Há de se analisar se os estudantes terão força para tal, uma vez que estamos na boca de um feriadão. Se o ritmo for o mesmo da invasão de 2010, a duração não passará de 48 horas. A conferir.

Segundo informações postadas pelo jornalista e professor na PUC Aldo Quiroga, quatro viaturas da Polícia Militar chegaram ao campus por volta de onze horas para “averiguação”, mas logo foram embora. Enquanto isso, estudantes limpavam a Capela da PUC que fora pichada por estudantes – eu mesma vi alguns carregando sprays pelo campus. Ainda segundo Quiroga, a equipe da Rede Globo chegou à PUC, aumentando o rol de veículos que já acompanhavam os protestos em seus sites – vide Estadão, Folha, R7, Blog do Noblat.

Dirceu de Mello (reeleito,), Francisco Serralvo (2º colocado na eleição) e a própria Anna Cintra (última no pleito) ainda não se manifestaram, mas devem fazê-lo no começo desta quarta (13). (Leia entrevista de Anna Cintra e Serralvo para o Estadão.) Creio que seja importante observar que: 1) a condição de saúde do reitor reeleito vinha preocupando e gerando especulações, o que não caracteriza argumento válido. 2) Anna Cintra é, sabidamente, da corrente pró-Fundação. E por último, 3) os três candidatos assinaram no dia 13 de agosto, ao participarem de Roda Viva no Tucarena, um termo de compromisso paracom o resultado do pleito. O documento, claro, será usado contra Anna, caso sua posição seja pelo “sim” à indicação.

Estudantes limpando vandalismo na Capela
da PUC (Aldo Quiroga)
Algo que me intriga – e deixa aquela pulguinha atrás da orelha – é o fato de pessoas próximas aos candidatos afirmarem que eles não sabiam da decisão a ser tomada pela FUNDASP. Não me parece que tenham sido pegos de surpresa. Mas esse ponto só poderá ser apurado quando todos os envolvidos começarem a falar – há uma audiência pública com as três chapas marcada para o dia 21/11, às 19h, no Teatro TUCA. Enquanto isso, a foca aguarda e o faz com a certeza de que, se algum dia duvidou da profissão que escolheu, a noite desta terça-feira serviu para lhe dar um aperitivo do que há de vir, conquistando-a ainda mais.







Sigo postando atualizações de assembleias, reuniões e notas no Twitter @__anabeatriz e no Facebook Ana Beatriz Camargo

7 comentários:

  1. Parabéns pela apuração, Ana! Foi a matéria mais bem explicada que li até agora. Nada como conhecer os bastidores da história para fazer seus leitores "mergulharem" nela.

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    1. Obrigada, Rita. Fico feliz que o texto tenha alcançado o objetivo. Valeu por ter dado essa passada no Declarando e deixado seu pitaco. Volte sempre que quiser para Declarar. rsrs.

      Beijos da foca.

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  2. Otima explicação, A.P! Quando li a respeito, confesso que fiquei um pouco confusa com a história, mas voce deixou tudo mais claro. Obrigada!

    Obs: nunca duvide da profissão que escolheu, é simplismente o seu dom, e voce o faz com coração e muita competência.

    beijos

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    1. TP, que bonito seu comentário, amiga! Sensação de dever cumprido por ter te ajudado a entender a situação. Você sempre com palavras de incentivo. Grande beijo!

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  3. Otima explicação, A.P! Quando li a respeito, confesso que fiquei um pouco confusa com a história, mas voce deixou tudo mais claro. Obrigada!

    Obs: nunca duvide da profissão que escolheu, é simplismente o seu dom, e voce o faz com coração e muita competência.

    beijos

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  4. Antes de qualquer coisa, acho importante declarar: sou um chato de plantão. Tendo dito isso, algumas considerações que, acredito, são pertinentes:
    Da forma como declarado nesta entrada, fica uma sensação de que a FUNDASP fez algo errado, de que encontrou uma brecha para fazer o que bem entendesse. Não é o caso e acho que poderia ter ficado mais claro que a FUNDASP seguiu o regulamento.
    Ainda sobre a decisão da FUNDASP, ainda vale ressaltar – sim, ressaltar – que mesmo o resultado da eleição não tendo sido respeitado, o regimento interno foi.
    Parece bobagem o que acabei de dizer, mas quando os alunos reclamam do termo de compromisso assinado, eles não podem se esquecer do regimento interno. Ele permanece válido e a escolha ainda é feita pela FUNDASP. Querer discutir a idoneidade e ética do reitor escolhido é diferente de não aceitar a escolha da FUNDASP, embora um e outro estejam interligados.
    O que ainda me incomoda nisso é que ninguém de fora da PUC saberá as diferenças entre os candidatos, suas idéias, etc. E a pergunta que faço, afinal, é: será que os alunos, todos os que estão reclamando agora, sabem?
    Eu já fui aluno da PUC e lembro bem de como foi a votação para reitor em minha época. Campanha de boca de urna. Massa de manobra. Enfim, espero notícias.

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    1. Oi, Otávio. Antes de qualquer outra coisa, gostei da nossa conversa pelo Twitter. Me ajudou a organizar as ideias e fazer as ponderações necessárias para "cair a ficha". Agradeço a você pelas indagações.

      Bom, como puquiano, você deve entender como funcionam as coisas no campus Monte Alegre. Os ânimos andam sempre exaltados, o que transforme faísca em fogo em um piscar de olhos. Não que isso sejam bom ou ruim - é um fato, e como tal, deve ser observado, respeitado e analisado.

      Quanto à sua crítica sobre deixar mais explícito que a FUNDASP não desrespeitou a legislação, os parágrafos 4 e 5 deixam isso bem claro. Acreditei que ficar insistindo nesse ponto seria desnecessário. Mas está anotado seu ponto de vista para o próximo texto que vou escrever.

      Concordo de ninguém de fora da PUC saberá as diferenças entre os candidatos, mas qual é a importância de saberem? Digo isso porque é a comunidade puquiana que vota e as decisões dos reitores afetarão essas pessoas. Sendo assim, não senti a necessidade de explicar o que cada chapa representa e nem o que defende. Mas esse desconhecimento não muda nada no entender "dos de fora" para com a situação.

      Eu não tenho bagagem para falar das eleições passadas, mas respeito o processo eleitoral de 2012. Houve um problema de cédulas sem a dupla rubrica, mas tudo foi resolvido entre os candidatos.

      Compartilho com você o vídeo que a TV PUC fez após os dois dias de cobertura: http://youtu.be/UcqYrbjYQPM

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Quem declara agora é você!